segunda-feira, 23 de maio de 2016

Lugar de gato é em casa

Alguns esclarecimentos a quem insiste em dizer que quer fazer o melhor por seus gatos: 
Por que insistir em conscientizar os proprietários de gatos sobre a importância de mantê-los sem acesso à rua em vez de brigar com os malvados que atropelam, envenenam, torturam… a culpa dessas atrocidades não é de quem as comete? Simples, pois é muito mais fácil e eficiente fazer com que quem REALMENTE GOSTA de gatos se conscientize sobre a importância de castrá-los e não dar acesso à rua do que fazer com que psicopatas deixem de ser psicopatas.
Se com leis rígidas contra o assassinato de seres humanos ainda tem um monte de gente matando por aí, imagina em relação aos gatos, animais de que a maioria das pessoas não gosta e tem preconceito e a quem não há lei eficiente que proteja?
Não, gatos que vivem dentro de casa não estão sofrendo e infelizes. E não, gatos que têm acesso à rua não estão livres e felizes. Como eu sei disso? Porque meu conceito de felicidade e infelicidade felina não está apoiado em meus valores humanos (isso seria um contra senso, não? “Eu sou feliz transando, logo, meu gato é feliz transando também”), mas em como os gatos demonstram felicidade ou infelicidade.
Porém, algumas coisas são universais: nenhum ser espancado é feliz. Nenhum ser envenenado é feliz. Nenhum ser torturado é feliz. Nenhum ser com ferimentos infeccionados é feliz. É só ter noção de causa e conseqüência. Um gato não castrado vai fazer pelo menos quatro gatinhos abandonados em cada gata que encontrar pelo caminho, em suas “andanças”. O que acontecerá com esses gatinhos? O que acontece com filhote de gato na rua? Os poucos que sobreviverem farão mais gatos abandonados, e a responsabilidade é do gato que originou tudo isso ou do dono que não o castrou? E a gata na sua casa que tem uma cria que você distribui entre os amigos?
E os filhotes desses filhotes? O que seus amigos farão com eles? E os que fizerem filhotes pelas ruas? Isso não é responsabilidade nossa?
1-A realidade sobre a castração
Gatos são animais com uma grande profusão hormonal. Bem maior do que a nossa, aliás. Hormônios sexuais que os obrigam a reproduzir a espécie, para que não desapareça. Porém, há uma superpopulação de gatos sofrendo nas ruas e se reproduzindo descontroladamente (todo mundo sabe disso, não é?) logo, não há necessidade de mais reprodução da espécie.
Mas eles não gostam de “transar”? A atividade sexual dos gatos é regulada única e exclusivamente pela atividade hormonal, não tem o apelo emocional que tem nos humanos, por exemplo, nem é sequer prazeroso. Mas como a gente sabe disso? O pênis do gato possui pequenos espinhos, que servem para sangrar a vagina da fêmea, pois o espermatozóide do gato só sobrevive em meio sanguíneo. A dor e o sangramento estimulam a ovulação na fêmea.
O gato tem primeiro que brigar com outros gatos pela fêmea. Após muita briga, gritaria, arranhões, machucados e mordidas, ele vai até a fêmea que o aceita por causa do cio, induzido pelos hormônios. Ele morde a fêmea pela nuca, para imobilizá-la e introduz o pênis espinhoso. Ela grita de dor, não de prazer. E ele a segura para que ela não se mova, e possa, assim, perpetuar a espécie. Quando a solta, ele ainda apanha dela.
Todo esse estresse é dirigido pelos hormônios que não têm a menor consciência de que a espécie sofre com a superpopulação. O gato chega em casa (quando tem casa) todo machucado das brigas e possivelmente não está nada feliz com essa situação, mas não pode evitar.

2-Quanto aos riscos…eles são animais, têm instintos, não se defendem sozinhos?
Doenças muito comuns em gatos, para as quais não há tratamento eficaz, nem vacina, como Peritonite Infecciosa Felina (PIF), Aids Felina (FIV) e Leucemia Felina (FELV) são transmitidas nas brigas, através de mordidas e do contato sexual. São muito contagiosas entre os gatos, embora não passem para os seres humanos. Como gatos não castrados – ou mesmo castrados – sem acesso à rua poderiam se defender de brigas de gatos infectados?
Além disso, gatos na rua estão sujeitos a atropelamentos (eles não sabem atravessar a rua, não entendem nossas regras de trânsito), envenenamentos, ataques de cachorros (aí sim, até podem correr para se defender, mas o último que eu soube que fez isso escapou de três cachorros que o perseguiam e na fuga colidiu violentamente com um carro que passava na rua e quebrou o pescoço. O motorista nem teve tempo de desviar) e espancamentos por pessoas ruins (de criaturas tão maiores, maldosas e mais fortes não há como se defender).
A castração e a criação indoor evitam que a vida do gato seja abreviada por motivos tão estúpidos. O que pode ser evitado não deve ser considerado acidente, nem visto com naturalidade quando acontece. Se o gato está sob sua responsabilidade, é seu dever protegê-lo do mundo criado pela nossa espécie e para a nossa espécie, tão hostil aos animais domésticos que não têm culpa de terem sido tirados de seu habitat há milhares de anos, perdido grande parte de seus instintos sem a menor possibilidade de desenvolver ferramentas para se proteger em meio aos humanos.

3-Com tanta castração, gatos não serão extintos?
Gato castrado não se despersonaliza, ele só deixa de ser guiado exclusivamente pelos hormônios. Assim, ele pode viver tranquilamente sua vida de gato, sem a neurose da perpetuação da espécie a qualquer custo (já que a espécie está mais do que perpetuada).
Mas se todo mundo castrar, eles não serão extintos? Quem se faz essa pergunta não parou para pensar ou nunca procurou sair às ruas à procura de gatos abandonados para alimentar. Eles saem bem tarde da noite, e voltam a se esconder assim que amanhece. Para começar, existem gatos em todos os lugares, se reproduzindo descontroladamente. Alguns nunca sequer serão pegos, pois são extremamente ariscos e morrerão doentes ou sob as rodas de algum carro, não sem antes se reproduzir muito.
Existem gatos nos bairros mais pobres, nas favelas mais distantes, onde as pessoas nem sequer ouviram falar de controle de natalidade e as próprias mulheres têm dezenas de filhos, que acabam não tendo condições de estudo, nem de um futuro. Essas pessoas criam gatos soltos e que se reproduzem descontroladamente, pois essa é sua própria realidade, vai demorar um bocado para que tenham acesso a informação e castração.

5-Dentro de casa
Gatos só são mesmo livres dentro de casa, pois ali é o território deles, onde eles se sentem seguros. Mas são curiosos e sempre irão querer passar pelas portas ou janelas que estiverem abertas para eles. Feche a porta de um cômodo qualquer da sua casa e imediatamente aquele será o lugar mais legal do mundo, no qual seu gato irá querer entrar a qualquer custo, até esquecer da idéia.
Gatos que vivem dentro de casa, com as janelas teladas não ficam miando desesperadamente para sair, sinto desiludir quem se apoiava nesse argumento.

A quem mora em apartamento, redes de proteção são obrigatórias, mas se você mora em casa e quer que seus gatos tenham acesso ao quintal, pode telar os muros e o portão, de maneira a não deixar nenhum lugar pelo qual ele possa escapar.

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